E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

domingo, 23 de novembro de 2008

Ensaio sobre várias cegueiras

Não sei o que se poderia esperar de Fernando Meirelles. Um filme sobrevalorizado e um esteticamente irrepreensível depois, nenhum saía de uma competente mediania que volta, com "Ensaio sobre a cegueira", a ser o que mais nos incomoda no realizador brasileiro. Porque os seus filmes estão cheios de boas ideias, visuais e narrativas. Mesmo a muito criticada opção "branca" deste filme - e não esquecendo a dificuldade de adaptar uma obra como esta - é o melhor que ele tem para oferecer, apesar da colagem literal ao conceito do livro. Mas depois, e cá está o incómodo, não há mais nada. Onde o livro tem dor, crueldade, repulsa, angústia, o filme não tem nem dor nem crueldade nem repulsa nem angústia - é apenas uma história em plano suavemente apocalíptico e humanitariamente moralista. Não passa nele e em nós nenhuma emoção.
Mas depois temos a crítica portuguesa. Ou para ser mais justo, a maioria dos críticos de cinema portugueses. Arrumada a questão da qualidade do filme - com alguns pontos de vista divertidos, para usar um eufemismo-, decidiram quase unanimamente dar largas a insuspeitos dotes de crítica literária. Com várias considerações sobre o livro, foi no entanto a mensagem e a forma usadas por Saramago que os parece ter incomodado. Pior, passam a ideia de que não seria nunca possível fazer um bom filme a partir de o "Ensaio sobre a cegueira".
Eu sei que o homem não é uma figura simpática, a vaidade vai incomodando aqui e ali e a ideologia fará o resto.
Sei igualmente que, em vários dos seus livros, as fabulosas ideias de partida nem sempre têm depois qualidade que as sustente. Mas, não nos deixemos também contaminar. José Saramago já nos deu várias obras-primas: O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Envahelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento e, para sermos simplesmemte justos, Ensaio Sobre a Cegueira.

1 comentário:

Aluada disse...

Não deixa grande curiosidade ...