E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O álbum do ano

Sai no dia 30 de Setembro de 2008 o álbum do ano:
Ray Lamontagne, "Gossip in the Grain".


Tracklisting:
1. Let It Be Me
2. Hey Me, Hey Mama
3. Sarah
4. I Still Care For You
5. Winter Birds
6. Meg White
7. Achin’ All The Time
8. Henry Nearly Killed Me (It’s A Shame)
9. A Falling Through
10. Gossip In The Grain

http://raylamontagne.shop.musictoday.com/Dept.aspx?cp=743_14130

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O início


Lucinda Williams, "Essence"

Baby, sweet baby, you're my drug
Come on and let me taste your stuff

Baby, sweet baby, bring me your gift
What surprise you gonna hit me with

I am waiting here for more
I am waiting by your door
I am waiting on your back steps
I am waiting in my car
I am waiting at this bar
I am waiting for your essence

Baby, sweet baby, whisper my name
Shoot your love into my vein

Baby, sweet baby, kiss me hard
Make me wonder who's in charge

I am waiting here for more...



Baby, sweet baby, I wanna feel your breath
Even though you like to flirt with death

Baby, sweet baby, can't get enough
Please come find me and help me get fucked up

I am waiting here for more...


Your essence
Your essence

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A mais bela canção do mundo?


Ray Lamontagne, "Lesson Learned"

Well the truth it fell so heavy
Like a hammer through the room
That I could choose another over her
You always said I was an actor, baby
Guess in truth you thought me just amateur

That you never saw the signs
That you never lost your grip
Oh, come on now
That's such a childish claim
Now I wear the brand of traitor
Don't it seem a bit absurd
When it's clear I was so obviously framed
When it's clear I was so obviously framed

Now you act so surprised
To hear what you already know
And all you really had to do was ask
I'd have told you straight away
All those lies were truth
And all that was false was fact

Now you hold me close and hard
But I was like a statue at most
Refusing to acknowledge you'd been hurt
Now you're clawing at my throat
And you're crying all is lost
But your tears they felt so hot upon my shirt
But your tears they felt so hot upon my shirt

Well the truth it fell so heavy
Like a hammer through the room
That I could choose another over her
You always said I was an actor, baby
Guess in truth you thought me just amateur

Was it you who told me once
Now looking back it seems so real
That all our mistakes are merely grist for the mill
So why is it now after I had my fill
That you steal from me the sorrow that I've earned
Shall we call this a lesson learned?
Shall we call this a lesson learned?



Plano de viagem

Nunca vogaria a sul desta imensidão de estrelas só para te conquistar - era apenas o que faria depois de te ter conquistado.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Nova verdade absoluta

Ir até ao fim do país por uma palavra: tê-la em mim para sempre.
Depois o mar e uma lua a vogar entre gaivotas nocturnas debaixo de todo este céu - e a palavra ali,

no mundo de repente tão lento perfeito.
Como te amo nesta palavra.



segunda-feira, 21 de julho de 2008

Verdade absoluta

"A vida inteira para dizer uma palavra!
Felizes os que chegam a dizer uma palavra!”
Saúl Dias, "Vislumbre"

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A noite das luas cheias


Lizz Wright, "Coming Home"

Coming home to your shelter
Coming home where I stay
I go down in your water and I won't turn away

Coming back to your calling
I can hear your voice say
Coming home for tomorrow from my dreams of yesterday

You may not understand me but I hear you so well
Your voice comes in the cold wind , a tune I know so well
I can see you through any darkness
Your light it leads me on

I'm coming back to your orchard
Coming back to my home

People ask me where are you going, and I know I know what they think
I get tired , tired of their questions so I must find a way

To meet you down at the old grounds, where we used to pray
I'm coming home for tomorrow from my dreams of yesterday

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Concerto

Algés. 12 de Julho de 2008. 23 horas e 50 minutos. Há o rio que termina e uma lua quase cheia. E o vento, sempre.
Neil Young termina o concerto na última noite do Optimus Alive!08. Nas mãos uma guitarra já sem cordas.
O concerto da noite. O concerto da minha vida?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Eu a dizer

E agora venho à varanda.Está uma noite morna de estrelas. Ao longe, recortado no escuro, o bosque adensa o mistério e o susto. São árvores negras cerradas redondas, estão ali para haver mais céu e estrelas e isso ser real. É uma noite límpida e de súbito tu. Apareces bela e absoluta na tua beleza – e agora?
Devia convocar poetas e todos os poemas definitivos onde habitas desde a eternidade e que foram escritos porque tu existes. Ou os músicos e todas as melodias perfeitas que o são porque os deuses as cantaram e o teu nome vinha nas vozes do mundo. Ou os escritores que te romancearam e os pintores que também, mas em míriades de pura luz.
Mas agora estou parado à varanda e tenho a noite para ti. E ser eu. Ser eu a dizer-te o maravilhoso desde as primeiras palavras, o primeiro sorriso, a vida a revelar-se-me a cada lembrança tua, cada partilha, cada desejo e emoção e alegria. Desde o primeiro chá e café e filme e antes disso. Muito antes. Dizeres vou descer e o meu encantamento em ter-te breve a meu lado, o meu fascínio aflito.
A noite estrelada e fixa na minha memória, Um céu imenso e vazio mas agora não. Há uma lua quente cheia lunar. Só nós a vemos. E enquanto a olho, de repente. O mar. Está uma tarde linda e o mar imenso quente de sol no horizonte. E tu aí, insinuada à beleza que talvez venha das águas mas não sei bem.
E depois, e depois. A comoção dos dias nesta noite parada. As árvores ao longe, o meu olhar alonga-se até ao infinito e a paixão com ele, súbita intensa súbtil, espraia-se pura e suave. Terna.

E agora eu a dizer. E dizer e dizer-te que o mundo e a vida e tu no começo de tudo e finalmente isso ser verdade.
Na noite morna de estrelas, estou à varanda. Uma breve agitação no ar, um sussurro de vento talvez. Mais nítido agora, são palavras cheias e finais, estou a reconhecê-las, alguém as escreveu no meu escrever e disse diz-lhe. Diz-lhe, agora. "Veio-me hoje uma enorme vontade de te amar".
E eu disse.

Na paixão pura imensa.
Imensa.

Um mundo perfeito

Não teve dúvidas de que a amaria para sempre quando soube que aquele beijo seria absoluto, perfeito.
Mesmo que nunca viesse a acontecer.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um imenso reflexo

- Agora vou mostrar-te o mar de que me falaste.
- Está bem.
- E esta é a varanda onde um dia nos descreveste.
- Eu sei, desenhei-a em cada palavra que escrevi.
- Não te lembras de aqui ter estado?
- Lembro-me. Mas não me recordo de a ter visto.
- Nem do mar?
- Não.
- Jura que é verdade?
- Juro.
- Vamos então agora olhar o mar.
- Sim.
- Ficamos de pé junto ao varandim, queres?
- Preciso apenas de te ter a meu lado, para te poder ouvir os silêncios.
- Olha então agora.
- Estou a olhar.
- Sentes o cheiro a maresia?
- Sim. Adoro-o.
- Eu também. Queres inspirar fundo?
- Sim, e sinto também o teu cheiro quando o mar se esquece.
- E ouves o rumor das águas?
- Ouço.
- Podíamos ficar agora um pouco em silêncio.
- Está bem.
- Queres agora ver o sol?
- Podemos olhar?
- Sim. Se reparares, ele está a chegar ao horizonte.
- Vejo o mar a explodir de cor.
- É o momento mais perfeito do dia.
- O dia foi tão perfeito.
- Sentes isso?
- Sim. E agora a noite vem aí.
- Vem ainda olhar o sol a tornar-se mar.
- Estou a olhar e a pensar muito.
- Diz-me.
- Os abraços foram inventados para este momento.
- Talvez.
- Juras que a noite vai ser perfeita?
- Juro.
- Como podes ter a certeza?
- Sempre o foram desde que nos conhecemos.
- Eu sei.
- Sentes esta brisa?
- Tinha-a sentido nos teus cabelos.
- Vem talvez do fim do mar, da queda súbita do sol.
- Nunca tinha pensado nisso.
- Não vês que é morna?
- Vejo. Sinto-a de novo nos teus cabelos.
- Exagerado.
- É verdade.
- Está bem. Mas agora vamos esperar pelas estrelas em silêncio.
- Estou calado.
- Já te disse que te adoro?
- Assim não estamos em silêncio. Mas tambem te adoro com outra palavra mas agora não é suposto falarmos.
- Tens razão.
- Está bem.
- Vês ao alto as primeiras estrelas a cintilar?
- Vejo-as. O céu é sempre assim tão belo antes de ser negro?
- É. Mas se não fosse, eu iria torná-lo sempre assim para ti.
- Prometes?
- Não é preciso, já o estou a fazer.
- Apetece-me sorrir.
- Vês agora aquela mais brilhante por cima do mar ao fundo?
- Vejo e quero que tu a vejas melhor.
- Sim.
- Notas que não cintila?
- Sim.
- É um planeta, talvez Vénus, reflecte a luz do sol que já não vemos.
- Achas que é Vénus?
- Tenho de ver melhor mas agora quero que seja.
- Vais oferecer-mo e dizer que o puseste lá para mim?
- Talvez, se me chamares exagerado.
- Nesta noite, não há lugar ao exagero.
- Está bem.
- Achas que se olharmos o céu podemos saber se vamos ser felizes?
- Não sei, talvez. Eu estou feliz.
- Por estares aqui?
- Sim. Contigo.
- Estás apaixonado por mim?
- Estou assustado.
- Assustado?
- Custa-me apenas pensar que nunca estive.
- Porque dizes isso?
- Pelo que sinto agora.
- E sentes-te apaixonado?
- Sim. Muito.
- Exagerado.
- Já tinhamos falado que hoje não.
- Eu sei, desculpa. Mas não sinto isso.
- Acho que tens medo de sentir.
- E tu, não tens?
- Tenho apenas medo das certezas que vêm de ti.
- Deixa-me sentir um pouco a noite.
- Está bem.
- Achas que também estou apaixonada?
- Só posso responder pelos teus olhos.
- E o que eles te dizem?
- O que os teus lábios irão ter também de dizer.
- Achas que ainda não disseram nada?
- Talvez um pouco. Lembro-me de um arrepio.
- Não quero agora corar.
- Ou de quando jantámos.
- Gostaste de jantar comigo?
- Se dissesse apenas que sim, estaria a ser injusto com todos os outros momentos, todos os segundos.
- Mesmo os cinemas, os cafés, as conversas longas, as provocações, os olhares lentos?
- Todos os segundos.
- Escolhes um momento para mim?
- Escolho.
- Para sempre como uma tatuagem?
- Sim.
- Diz-me.
- Lembro-me da alegria indizível de quando tivemos o fim do Tejo no olhar.
- Tenho-a agora aqui, sinto-a nesta humidade súbita.
- Queria explicar-te melhor, mas tenho de fechar os olhos.
- Eu sei. Vamos ficar assim.
- Está bem.
- Queres de novo olhar o mar?
- Sim.
- E vermos todas as estrelas e constelações?
- Sim.
- Abre então os olhos comigo, devagar.
- Estou a começar a ver as águas.
- Vês os brilhos nelas?
- Sim. É apenas o reflexo das estrelas, repara.
- Deixa-me olhar melhor.
- Está aí o céu todo, o mar é agora então um firmamento espelhado.
- Estás a falar verdade?
- Nunca te menti.
- Mas há ali um negro mais vísivel e profundo, consegues ver?
- Sim, estou a ver.
- Como quando é lua nova?
- Sim, mas falta ali uma estrela no reflexo do mar.
- E agora?
- Não sei. Talvez tenhamos de a colocar lá.
- Talvez. Fazias isso por mim?
- Fazia tudo por ti.
- Juras?
- Juro.
- E agora?
- Agora vou estender a minha mão até encontrar a tua.
- Sinto a tua pele suavemente na minha.
- É quente a tua mão, doce.
- Sentes o arrepio?
- Sim.
- E depois?
- Depois ficamos de mão dada a olhar as estrelas e o mar. Longamente.
- Já não falta nenhuma estrela?
- Agora, não. Olha comigo.
- Sim. Está um céu límpido e perfeito.
- Queres que nasça agora a lua?
- Muito.
- Vou fazê-la nascer cheia sobre as águas ao longe.
- Queria sentir-lhe o calor na minha face como quando pousas a tua mão.
- Está bem.
- Não tens medo que o mundo acabe agora?
- Não, sempre quis que acabasse assim.
- Junto de mim? Apaixonado?
- Sim. Junto a ti. Tudo o resto está no absoluto de estarmos de mão dada. Simplesmente.
- Nunca imaginei ser tão bom sentir a tua mão.
- E acreditas no que ela te diz?
- Começo a acreditar.
- Está bem.
- Achas mesmo que o mundo pode acabar?
- Não.
- Juras?
- Juro.
- Prometes-me então agora uma coisa que está prometida desde a eternidade?
- Sim.
- E que só o vais fazer para mim, agora e para sempre?
- Sim.
- E que nunca o fizeste antes?
- Sim.
- Prometes-me então que o mundo vai agora parar?
- Prometo.
- E que o universo vai mesmo ficar suspenso?
- Prometo.
- Dá-me mais um momento para sentir ainda a tua mão. E o teu olhar.
- Temos a vida toda.
- Apenas quero uma certeza. Agora.
- Diz.

- Ter agora a certeza absoluta, total, de que os teus lábios vão ser sempre, sempre apenas o reflexo dos meus.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Portugal a pé

Todas as semanas, na revista Única do jornal "Expresso", uma crónica de um Portugal a desvanescer-se. O jornalista Nuno Ferreira percorre Portugal a pé, e nós vamos com ele.

A vida toda

"E a certa altura não pude mais. E disse, e disse, secretamente, dificilmente.
E disse. Devagar,
- Amo-te.
E ela sorriu.
- Também te amo.
Uma palavra. Disse-a. Amo-te - uma palavra breve.
Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida. E ouvi. E pensei. Tudo se desfez.
Mas houve uma palavra - meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vísceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total.
Uma palavra. Amo-te.

Vergílio Ferreira in "Para Sempre"

sexta-feira, 4 de julho de 2008

CD's - o melhor de 2008 (até agora)

Num ano até agora sofrível, os melhores que ouvi nos primeiros 6 meses:

BLACK KEYS, THE - Attack and Release
COLDPLAY - Viva La Vida Or Death And All His Friends
DRIVE-BY TRUCKERS - Brighter Than Creation's Dark
EMMYLOU HARRIS - All I Intended to Be
ERIC BIBB - Get on Board
GARY LOURIS - Vagabonds
JAMES - Hey Ma
JAMES MCMURTRY - Just us Kids
JUSTIN TOWNES EARLE - The Good Life
KATHLEEN EDWARDS - Asking For Flowers
KATHY MATTEA - Coal
LIZZ WRIGHT - Orchard
OTIS TAYLOR - Recapturing the Banjo
RAY BONNEVILLE - Goin' By Feel
TIFT MERRITT - Another Country


Os que mais se se recusaram a deixar de ser onvidos:
ERIC BIBB, TIFT MERRITT, LIZZ WRIGHT

terça-feira, 1 de julho de 2008

Agora.
Agora ainda é noite e ele lembra-se de quando se sentiu a vogar num céu de veludo lunar.
Acordara com a certeza de um presságio e deu consigo a olhar pensamentos no escuro nocturno.
Depois, quando voltaram a existir estrelas, sentiu-lhe o calor dos dedos a percorrer as suas mãos.
Lembra-se de haver mar e Inverno e de estarem sós no mundo.
E de ter então decidido que seria uma madrugada quente e perfeita de Verão.

Talvez por isso acreditara sentir uma brisa morna quando os lábios dela lhe afloraram a pele num sopro de aragem pura.
E, quando a brisa se tornou sufocante, olhou-a longamente e foi de certeza pelo halo das estrelas que percorreu todo o seu corpo quase sem lhe tocar - apenas um arrepio de pele.
Recorda-se perfeitamente do momento em que os lábios lentos planantes nos dela porque sentiu a lua a nascer absoluta no horizonte.
E de que ficaram assim muito tempo e apenas as mãos.
E jura agora então que tudo parou e apenas o silêncio para que não tivessem de falar.
E jura agora que lhe tocou na face e teve a certeza de estarem suspensos num vôo de veludo lunar.