E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Eu a dizer

E agora venho à varanda.Está uma noite morna de estrelas. Ao longe, recortado no escuro, o bosque adensa o mistério e o susto. São árvores negras cerradas redondas, estão ali para haver mais céu e estrelas e isso ser real. É uma noite límpida e de súbito tu. Apareces bela e absoluta na tua beleza – e agora?
Devia convocar poetas e todos os poemas definitivos onde habitas desde a eternidade e que foram escritos porque tu existes. Ou os músicos e todas as melodias perfeitas que o são porque os deuses as cantaram e o teu nome vinha nas vozes do mundo. Ou os escritores que te romancearam e os pintores que também, mas em míriades de pura luz.
Mas agora estou parado à varanda e tenho a noite para ti. E ser eu. Ser eu a dizer-te o maravilhoso desde as primeiras palavras, o primeiro sorriso, a vida a revelar-se-me a cada lembrança tua, cada partilha, cada desejo e emoção e alegria. Desde o primeiro chá e café e filme e antes disso. Muito antes. Dizeres vou descer e o meu encantamento em ter-te breve a meu lado, o meu fascínio aflito.
A noite estrelada e fixa na minha memória, Um céu imenso e vazio mas agora não. Há uma lua quente cheia lunar. Só nós a vemos. E enquanto a olho, de repente. O mar. Está uma tarde linda e o mar imenso quente de sol no horizonte. E tu aí, insinuada à beleza que talvez venha das águas mas não sei bem.
E depois, e depois. A comoção dos dias nesta noite parada. As árvores ao longe, o meu olhar alonga-se até ao infinito e a paixão com ele, súbita intensa súbtil, espraia-se pura e suave. Terna.

E agora eu a dizer. E dizer e dizer-te que o mundo e a vida e tu no começo de tudo e finalmente isso ser verdade.
Na noite morna de estrelas, estou à varanda. Uma breve agitação no ar, um sussurro de vento talvez. Mais nítido agora, são palavras cheias e finais, estou a reconhecê-las, alguém as escreveu no meu escrever e disse diz-lhe. Diz-lhe, agora. "Veio-me hoje uma enorme vontade de te amar".
E eu disse.

Na paixão pura imensa.
Imensa.

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