E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

domingo, 30 de novembro de 2008

Saudades de uma grande canção

No último álbum com a formação de sempre, "...Famous Last Words...", Rodger Hodgson despede-se da banda com esta canção belíssima.
Supertramp, "Don't Leave me Now"

Don't leave me now
Leave me out in the pouring rain
With my back against the wall
Don't leave me now
Don't leave me now
Leave me out with nowhere to go
And the shadows start to fall
Don't leave me now
Don't leave me now
Leave me out on this lonely road
As the wind begins to howl
Don't leave me now
Don't leave me now
All alone on this darkest night
Feeling old and cold and grey
Don't leave me now
Don't leave me now
Leave me holding an empty heart
As the curtain starts to fall
Don't leave me now
Don't leave me now
All alone in this crazy world
When I'm old and cold and grey and time is gone...

O tempo à espera

Edward Hopper, Nighthawks 1942

sábado, 29 de novembro de 2008

Saudades de ti

Fausto Zonaro, Museu Sakιp Sabancι

Saudades da beleza

Vincent van Gogh`s "Almond Blossom", Van Gogh Museum

Saudades do mundo

Rembrandt's The Night Watch, Rijksmuseum

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O dia que o ano não quis

Porque tenho agora a certeza que o dia de ontem nunca existiu.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sem jeito

"Via-a de longe, evitava vê-la de perto, como é que lhe havia de falar? E era como se uma vergonha muito grande, um pecado ou coisa assim, ou uma inferioridade muito baixa e que vinha de uma superioridade muito alta em que eu via Sandra. Eu sentia-me esmagado de humilhação, como é que lhe havia de falar? Quem é que disse que o amor aproxima não sei quê? não é verdade. Sou um homem experimentado - não é verdade. Se eu amasse pouco Sandra, ou não a amasse, era-me muito mais fácil falar com ela, lidar com ela e com a irmã e com quem quer que fosse dela, eu livre e independente. Amar é pôr ao alto e ao longe, treme-se como diante de um deus tresloucado. Amar muito é ter pouco de nós com que se possa ser gente. Amar é ser desgraçado e eu era."

Vergílio Ferreira in "Para Sempre"

domingo, 23 de novembro de 2008

Ensaio sobre várias cegueiras

Não sei o que se poderia esperar de Fernando Meirelles. Um filme sobrevalorizado e um esteticamente irrepreensível depois, nenhum saía de uma competente mediania que volta, com "Ensaio sobre a cegueira", a ser o que mais nos incomoda no realizador brasileiro. Porque os seus filmes estão cheios de boas ideias, visuais e narrativas. Mesmo a muito criticada opção "branca" deste filme - e não esquecendo a dificuldade de adaptar uma obra como esta - é o melhor que ele tem para oferecer, apesar da colagem literal ao conceito do livro. Mas depois, e cá está o incómodo, não há mais nada. Onde o livro tem dor, crueldade, repulsa, angústia, o filme não tem nem dor nem crueldade nem repulsa nem angústia - é apenas uma história em plano suavemente apocalíptico e humanitariamente moralista. Não passa nele e em nós nenhuma emoção.
Mas depois temos a crítica portuguesa. Ou para ser mais justo, a maioria dos críticos de cinema portugueses. Arrumada a questão da qualidade do filme - com alguns pontos de vista divertidos, para usar um eufemismo-, decidiram quase unanimamente dar largas a insuspeitos dotes de crítica literária. Com várias considerações sobre o livro, foi no entanto a mensagem e a forma usadas por Saramago que os parece ter incomodado. Pior, passam a ideia de que não seria nunca possível fazer um bom filme a partir de o "Ensaio sobre a cegueira".
Eu sei que o homem não é uma figura simpática, a vaidade vai incomodando aqui e ali e a ideologia fará o resto.
Sei igualmente que, em vários dos seus livros, as fabulosas ideias de partida nem sempre têm depois qualidade que as sustente. Mas, não nos deixemos também contaminar. José Saramago já nos deu várias obras-primas: O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Envahelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento e, para sermos simplesmemte justos, Ensaio Sobre a Cegueira.

Can I Stay?


Ray Lamontagne, "Can I Stay"

Can I stay here with you till the morning?
I am so far from home and I feel a little stoned
So can I stay here with you till the morning?
There's nothing I want more than to wake up on your floor
So lay with me in your thinnest dress
Fill my heart with each caress
Between your blissful kisses, whisper
Darling, is this love?

So can I stay here with you, till the day breaks?
There's something you should know
I ain't got no place to go
So can I stay here with you, till the day breaks?
How happy it would make me to see your face when I wake
So lay with me in your thinnest dress
Fill my heart with each caress
Between your blissful kisses, whisper
Darling, is this love?

So can I stay here with you till the nighttime?
I've fallen sad inside and I need a place to hide
So can I stay, here with you, through the nighttime?
I've fallen so sad it's true, now won't you take me to your room
Lay with me in your thinnest dress
Fill my heart with each caress
Between your blissful kisses, whisper
Darling, is this love?

Whisper to me, is this love?

sábado, 22 de novembro de 2008

A aprendizagem de ti




Marillion, "Beautiful"

Everybody knows we live in a world
Where they give bad names to beautiful things
Everybody knows we live in a world
Where we don't give beautiful things a second glance

Heaven only knows we live in a world
Where what we call beautiful is just something on sale
People laughing behind their hands
As the fragile and the sensitive are given no chance

And the leaves turn from red to brown
To be trodden down
To be trodden down
And the leaves turn from red to brown
Fall to the ground
Fall to the ground

We don't have to live in a world
Where we give bad names to beautiful things
We should live in a beautiful world
We should give beautiful a second chance

And the leaves turn from red to brown
To be trodden down
To be trodden down
And the leaves turn from red to brown
Fall to the ground
And get kicked around

You strong enough to be
Have you the courage to be
Have you the faith to be Honest enough to stay
Don't have to be the same
Don't have to be this way
C'mon and sign your name
You wild enough to remain beautiful?
Beautiful

And the leaves turn from red to brown
To be trodden down
Trodden down
And we fall green to red to brown
Fall to the ground
But we can turn it around

You strong enough to be
Why don't you stand up and say
Give yourself a break
They'll laugh at you anyway
So why don't you stand up and be
Beautiful

Black, white, red, gold, and brown
We're stuck in this world
Nowhere to go
Turnin' around
What are you so afraid of?
Show us what you're made of
Be yourself and be beautiful
Beautiful

A suspensão do mundo

Lisboa a vogar nesta manhã suspensa de luz.
Agora sei que o Tejo tem memória e que o teu sorriso terá servido de espelho às águas.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Absoluto silêncio

Monument Valley Navajo Tribal Park, Arizona
Peter Lik

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Depois

Depois das coincidências, das surpresas, dos sorrisos, dos olhares e dos olhares desviados, dos silêncios e das palavras absolutas que nos deixam em silêncio por entre palavras, das canções de olhos molhados e vozes a estalar-nos a pele, depois de raivas que não aguentam a ternura e o riso, depois de nós e do mar e da lua e das manhãs de dias perfeitos escritas num livro, depois de tudo o do tudo que ainda não existiu, não sei a que mais se poderá chamar amor.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Blue


Ryan Adams, "Blue Sky Blues"

Blue sky when you gonna learn to rain?
And let yourself go blue for once
And let go of the weight you've been carrying
In this house, no one goes to sleep for days
Its like were working on a mountainside
Trying not to slide
Into the ocean

I can take care of you
But only if you want
I’m strong enough to carry you
Across the icy lake, across the icy lake
But I cant fight your blues
Cause I know I'll lose
What's left of my mind
I can’t win
But for you I will try
My baby blue

My mountain is hidden in a pile of trees
And its the one I'll have to climb
If I ever wanna see
Over the ocean
Blue sky
When you gonna learn to rain?
And let yourself go blue for once
And let go of the pain?

I can take care of you
But only if you want
I’m strong enough to carry you
Across the icy lake, across the icy lake
But I cant fight your blues
Cause I know I'll lose
What's left of my mind
I can’t win
But for you I will try
My baby blue

Para ti

Posso apenas dar-te a palavra total.
A que resume tudo.
A que deixou o seu nome em tudo o que tinha nome e agora não tem porque apenas ela.
A que juraste não existir apenas porque já a tinhas inventado em mim.
A que me ensinaste lenta e imensamente até ficar ali avulsa nas minhas mãos.
Posso agora dar-te a palavra total.
Faz dela o que quiseres.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Peter Lik


Toda a beleza do mundo disfarçada de fotografia.

Retribuição


Hoje, corri para te levar a ver o mar.

domingo, 16 de novembro de 2008

Da sabedoria dos livros

Ausência
do Lat. absentias. s. f.,

Afastamento de pessoa do lugar em que deveria estar.

sábado, 15 de novembro de 2008

Astronomia

E foi subitamente esse instante. Havia um frio nítido subtil e então a lua soube da nossa vontade de a manter quieta no horizonte nocturno do céu.
Nesse dia a astronomia morreu.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Que farei quando tudo arde?*

Que fazer quando um sentimento anula todos os outros e ainda assim isso faz sentido?
Te reduz a quase nada e no entanto sentes que nunca foste tanto?
Te faz doer o tempo mesmo se odeias que então o tempo exista?
Quando a raiva se desfaz à vista de cada olhar teu apenas porque eu o inventei em veludo lunar?
Que fazer quando tudo é apenas o tudo que tu fizeste existir?

*Título de um livro de António Lobo Antunes

Em teu nome

"...e acirrares-me domesticares-me obrigares-me a ajoelhar. Silêncio - e já falei tanto. Vou pôr na rua da lembrança tudo o que não for a tua nudez, a amargura vexame sofrimento. Mesmo as alegrias que não são para aqui. Preciso tanto de te amar - e como te vou amar? Não sei. Vou-te amar no infinito da tua perfeição."

Vergílio Ferreira in "Em Nome da Terra"

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Flor

E subitamente uma vontade absoluta de oferecer-te uma árvore de onde caíssem flores ao entardecer.
E que dessas flores se visse o mar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Perfume

A eterna vontade de partir. Só para poder regressar.
E ficarem então só os cheiros e a memória cheia deles - e desta música fabulosa.

Fausto, "Ao Longo de Um Claro Rio de Água Doce"

E parecia aquele Tejo
Este rio doirado
Parecia até que tu vinhas
Comigo a meu lado
Ou seria das flores
E das matas cheirosas
Das madressilvas, dos frutos
Das ervas babosas

E pareciam campinas
Vales tão estendidos
Pareciam mesmo os teus braços
Que me abraçam cingidos
Ou seria das silvas
Do gengibre do benjoim
Do cheiro daquela chuva
Dos cacimbos enfim

Porque haveria de ter saudades tuas
Ao longo de um claro rio de água doce

E parecia verão
No imenso arvoredo
Parecia até que dizias
Qualquer coisa em segredo
Ou seria dos dias
Muito quedos sem fim
Das noites muito melhor
Assombradas assim

Porque haveria de ter saudades tuas
Ao longo de um claro rio de água doce

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Facto

Facto: serás para sempre a mulher da minha vida mesmo que a vida se limite à distância do encantamento.

sábado, 8 de novembro de 2008

Ridículo

Decidir pois o que me orgulha e o que me embaraça. E o que embaraça.
Do que subitamente me entusiasma por dentro e isso não se desfazer em ridículo no teu gostar.
Encontrar o gesto certo. O impulso que envergonhe apenas o teu sorriso.
O que me fará sentir tudo agora porque tudo se esgota em ti. No imenso de ti.
Deixa-me esgotar o ridículo do mundo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hoje

"Não posso dar-te mais do que te dou
Este molhado olhar de homem que morre
E se comove ao ver-te assim presente tão subitamente."

Ruy Belo

domingo, 2 de novembro de 2008

Memória


Lizz Wright, Thank You

If the sun refused to shine, I will still be loving you
If the mountains crumbled to the sea, there would still be you and me

Kind man, I give you my all
Kind man, nothing more

Little drops of rain, whispers of the pain
Tears of love lost in days gone by
My love is strong, with you there is no wrong
Together we will go until we die

But my inspiration that's what you are to me
Inspiration, look and see
And now my world it smiles
Your hand in mine, we will walk for miles

Thanks to you it will be done
You are for me the only one

Happiness, no more be sad
Happiness, I am glad

Little drops of rain, whispers of the pain
Tears of love lost in days gone by
My love is strong, with you there is no wrong
Together we will go until we die


Yeah yeah I just want to thank you yeah
Oh oh oh I just want to thank you
Thank you yeah
Yeah yeah

É amor que se diz?

Olho a noite súbita no céu ao alto. Há chuva e frio e um desconforto que não é nosso mas das circunstâncias de sermos. Tiveras talvez uma suave distracção de seres no fantástico de ti. Havia um mundo a decidir e a tua decisão - rápida brusca. Na noite inicial de Inverno.
Mostraste-me então um relógio mágico que, a troco de uma moeda, roubou ao mundo de chuva lá fora uma hora de vida perfeita. Hora absoluta no encantamento de ali estarmos sem mais para lá disso ser tudo. Na emoção
e no riso. Mesmo no olhar que não se aguenta para se continuar a ver em timidez.
É amor que se diz?