E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Obrigatório

"E assim sucede, marquês de Villanueva de Barcarrota, porque nem a verdade nem a mentira são perenes. A verdade hoje aceite pode ter sido a mentira de ontem e transformar-se no engano de amanhã. Por isso, o mundo dos homens é uma constante guerra para impor a verdade, aniquilando a mentira, por receio de esta lhe usurpar o lugar. E é nestas transmutações que muitos males sucedem, não necessariamente apenas aos reputados mentirosos.
Quantos foram os homens e até as mulheres, marquês de Villanueva de Barcarrota, que morreram por defenderem a verdade antes do tempo correcto, durante o tempo errado ou depois do tempo certo? E quantos mataram impondo como verdade o que antes era considerado mentira? E quantos mataram ou morreram na luta para verem a sua mentira olhada como verdade? Confundo-vos com palavras, mas se assim procedo é com uma simples intenção: a verdade não é sempre boa, nem a mentira é sempre má. Por serem iguais na essência, se exaltamos uma, não podemos aviltar a outra."

Pedro Almeida Vieira in "A Mão Esquerda de Deus"

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