E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ano que vem

Acordou era a noite um mar imenso de chuva.
Sonhara com um ano de dias infinitos de sol e mesmo as nuvens seriam só penas brancas a desenhar o céu.
Teve a certeza que o vento era apenas o som do mar mesmo que só mais tarde ela o levasse a vê-lo pela primeira vez. Na névoa do olhar, lembra-se que escolheria o frio das Azenhas e um oceano de cores infinitas mesmo que tudo estivesse já decidido.
Soube que nesse ano perder-se-iam num cemitério de ventos e sombras e neve e estrada e seda e pianos e perfumes e que isso duraria para sempre.
Levá-la-ia pelas letras e descobririam canções de voz rouca e outras músicas que trariam noites quentes de lua cheia e olhares molhados provocados de certeza por qualquer coisa no ar.
Porque prometeu que era pelo ar que veriam Lisboa a vogar pelas margens do rio na tarde e no anoitecer mais perfeitos mesmo que em dias diferentes. Tão perfeitos como todas as vezes que a vai levar a ver o rio parando em todos os semáforos e desviando o olhar dos seus silêncios corados.
Irá mimá-la de palavras e sabores e plantará árvores de onde cairão tulipas em noites de lua cheia.
Jura que a quererá para sempre ver de franja e suspirará pelo mais leve espirro para poderem sorrir ao dizerem edredon.
Sonhou também que iria aprender a fazer os melhores scones do mundo e mesmo assim voltarão a ter saudades da placidez de um coreto.
E no fim das águas ensinar-lhe-á a rodopiar um copo para o vinho estar preparado para o seu sorriso.
Porque será pelo seu sorriso que atravessará planícies cobertas de estrelas até ao começo do mar. E a areia a toda a volta é apenas reflexos de clarões brancos de gaivotas no veludo do céu.
Os meses irão trazer-lhe cerejas porque deixará de existir outra fruta no mundo.
Deslumbrar-se-á por tudo o que lhe irá ler e ficará a sorrir por todas as respostas absolutas com que ela o fará apaixonar-se.
E irá nesse ano reparar nos seus ombros depois de reparar na sua face e dizer-lhe que são os mais bonitos do mundo mesmo depois de ela saber cantar “He fell in to the arms of the most beautiful girl that have ever lived in the history of the world”.
Irá talvez dar o seu primeiro beijo e, no entanto, sabe que será o melhor de uma vida.
Presume que ela irá cerrar o olhar algumas vezes e dir-lhe-á exagerado mas depois sorriem porque ela não descobrirá nenhuma mentira.
O sonho traz-lhe mesmo a certeza de todas as saudades que irá sentir e que tentará distinguir do aperto que ela lhe irá ensinar.
Como lhe ensinará, e ele aprenderá pela primeira vez, o que é amar mesmo que ela jure zangar-se para sempre.

1 comentário:

Aluada disse...

palavras não chegam