E agora páro o carro e uma vastidão imensa de horizontes. A estrada são duas linhas infinitas a desaparecer na aridez ao longe. Saio para o ar quente parado e o mundo suspenso a toda a volta. Subitamente, no carro, o rádio enrouquece a voz de Lucinda Williams – “I am waiting for your essence”. E é aqui que eu quero ficar - com toda esta luz, todo este silêncio. Todo este céu.

domingo, 19 de outubro de 2008

Escrita solar

Queria encontrar agora uma razão para te escrever.
Uma razão que dissesse a vontade de te escrever e a que está para lá disso e essa é que é.
Uma razão que explicasse tudo e tu entendesses na impossibilidade de haver uma explicação.
A que revelasse a paixão, mesmo com outro nome. O encantamento e o fascínio.
A que escrevesse, em palavras novas, todo o desejo, amizade, carinho, partilha.
A que sentisse a perfeição do teu corpo a estalar na minha pele.
Do teu modo cortante de ser que me dobra antes da doçura.
Do teu humor que afirmas não ter e me faz rir.
Do teu olhar de estrelas que me devolveu o mar mas dizemos "must be something in the air".
A que te mostrasse as minhas certezas e escondesse os meus medos – enormes imensos.
As decisões só possíveis porque o milagre de ti em mim.

Queria encontrar agora uma razão para te escrever.
A que falasse de tudo em humildade por não saber dizer tudo.
A que reconhecesse por fim que a razão está aí, simples fulgurante.
Na evidência do mistério e do infinito.
Uma razão para te escrever.
A que simplesmente tem o teu nome.

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